Livro: "Inteligência Artificial, Interação, Performance & Ilusão: Uma abordagem transdisciplinar sobre a mente e a interação com o mundo, máquinas e objetos."

A primeira coisa que este livro nos faz, é nos lembrar que a ideia estranha e desafiadora de inteligência artificial está conosco há muito tempo e que a maneira como o termo IA é usado no atual hype de marketing está quase totalmente errada. No século 21, o termo ‘artificial’ de alguma forma passou a significar o ‘mesmo que’ ou ‘bom como’ (ainda melhor do que) que, como Rocha aponta, depende de um maravilhoso truque de prestidigitação (ilusionismo) quando uma ideia se torna perfeitamente sua antese. Se este fosse apenas um ponto de conversa, nada disso importaria, mas importa. Na verdade, Alan Turing ficou tão frustrado com a interminável “burburinho” sobre a ideia filosófica de inteligência artificial que propôs o “Teste de Turing” (que ele prontamente admitiu ser uma conveniência provisória) apenas para levar o debate a uma direção prática. Esse imperativo para fazer o debate avançar também é uma das maiores virtudes desta tese.
A preocupação de Rocha é pensar sobre as maneiras pelas quais a inteligência humana pode ser incorporada na Interação Humano-Computador como um agente ativo e possivelmente quase autônomo. Como Turing, sua abordagem está enraizada no mundo material da praticidade e ele faz bem em nos lembrar, como alguns detalhes nas tentativas no século 18 (na verdade, bastante recentes na história da IA) de construir máquinas que poderiam fazer uma ou duas coisas inteligentes que os humanos podem fazer. Esta foi uma época em que invenções como os movimentos de um relógio, por exemplo, eram considerados organismos, mas agora temos uma visão diferente de uma mola ou escapamento e vemos alguns desses autômatos do século 18 como fraudes sofisticadas. Essa perspectiva histórica, ele argumenta, é importante para a forma como pensamos sobre IA hoje, para que possamos perguntar de quais fraudes somos cúmplices quando falamos de máquinas que têm inteligência humana. Mais radical de tudo, isso exige reflexão sobre algumas das verdades científicas e construídas que formam as teorias que são usadas para explicar a consciência, a mente e a inteligência humana.
Ele inicia este desafio bem na raiz e a ramifica através de uma curta excursão no que agora é atualmente considerado como arqueologia da mídia, para revelar o que estava em jogo na obsessão do século 18 por autômatos, tanto para o criador (que geralmente ganhava prestígio ou ganhava dinheiro com o truque) e o mais importante, para a audiência. Embora o envolvimento com esses dispositivos tenham sido, aparentemente, principalmente uma experiência audiovisual para os espectadores, essa jornada histórica recupera a materialidade crucial e as dimensões corporificadas dessas invenções de uma forma que tem ressonância para nós hoje. Seu argumento é que, embora o corpo possa estar sujeito a mudanças históricas, ele continua sendo um dado-chave para a reflexão sobre as experiências e ações que surgem delas. É uma lição, ele argumenta, que podemos muito bem aprender (novamente) quando somos apanhados em projetos de design e engenharia que têm a ilusão de imaterialidade. Sua tese reafirma que a ideia de artificial significa reconhecer ao truque do ventríloquo ou do mestre de xadrez oculto dentro do gabinete do Turco, o jogador de xadrez automatizado de Wolfgang von Kempelen. E, o mais útil, devemos levar isso em consideração em nossas práticas de design hoje, à medida que construímos interfaces entre humanos e máquinas.